quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Globalização financeira e política paroquial

Tenho andado a procurar blogs sobre temas de economia, mas verifico que são poucos e de uma maneira geral desinteressantes. A ideia com que fico é que a maior parte das pessoas nada percebe do assunto e tal carência é decididamente grave, porque compromete a inteligibilidade dos acontecimentos que a todos afectam.
Politica cambial, fluxos de capital especulativo, controlo dos preços das matérias-primas são tópicos que ouvimos mas não entendemos nem ninguém se preocupa seriamente em explicar, parecendo partir-se do princípio de que toda a gente sabe de que se trata. Mas há uma coisa que mesmo alguém leigo na matéria entende, entende que não se pode chegar a acordos nestas questões sem se encontrar plataformas políticas globais, mas estas parecem extremamente difíceis porque cada um quer puxar a brasa à sua sardinha.
A China não está nem aí para ouvir falar em interferência externa no sentido de fixação da política cambial; mantém a sua moeda artificialmente desvalorizada o que junto a outros factores, como mão-de-obra barata e desrespeito por preocupações ambientais lhe dá imensa vantagem competitiva e obriga muitas indústrias em outros países a fecharem as portas, aumentando exponencialmente o desemprego.
Quanto ao controlo dos preços das matérias-primas, ninguém se entende porque toda a gente quer regular a horta do vizinho mas não permite que se interfira na sua.
O fluxo de capitais especulativos é incontrolável, embora muitos opinem que é preciso fazer qualquer coisa sob pena de se multiplicarem as crises, as bolhas e as ressacas. Por exemplo, nos Estados Unidos, a bolsa de valores recompôs-se rapidamente depois da crise profunda que afectou o país em 2008, longe de estar debelada. O fenómeno da fuga de capitais, neste caso da Europa para os Estados Unidos parece largamente responsável por uma recuperação que não corresponde a ganhos reais na economia do país, mas que perturba a economia de outros. Na Europa, nos vários países endividados, os donos do dinheiro não estão com meias medidas, investem-no onde supõem poder obter melhores dividendos, sem qualquer preocupação com a saúde da economia dos respectivos países; o que os continua a mover é o lucro e a ganância pura. Quer dizer o capital em vez de servir para produzir riqueza serve se replicar e produzir mais dinheiro.
Parece que a única coisa que se globalizou de facto foi o capital financeiro, a politica continua local, diria mesmo paroquial. Organização Mundial do Trabalho anda por aí, mas não se nota. Um organismo internacional para exigir o estabelecimento de uma política cambial que impeça qualquer país de manipular a seu bel-prazer o valor da sua moeda, ainda não se vislumbra. Mecanismos que impeçam ou dificultem os fluxos de capital especulativo ninguém consegue imaginá-los e muito menos desenhá-los.
Alguma coisa vai muito mal neste nosso mundo e assim continuará enquanto os seres humanos não perceberem que defender apenas os interesses de alguns é um mau negócio para todos.

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