domingo, 4 de setembro de 2011

Motins no Reino Unido e ataques terroristas

A propósito dos recentes motins ocorridos em Londres e outras cidades do Reino Unido, traduzo algumas considerações que me parecem lançar luz sobre o fenómeno:
"Os amotinados, embora destituídos de privilégios e, de facto, socialmente excluídos, não estavam a viver na linha da miséria. Pessoas em muito pior situação material, independentemente das condições de opressão física e ideológica, têm sido capazes de se organizarem em forças políticas com agendas definidas. O facto de os amotinados não terem programa é em si mesmo algo que precisa de ser interpretado: diz-nos muito acerca do nosso predicamento ideológico-político e do tipo de sociedade em que vivemos, uma sociedade que celebra a escolha mas na qual a única alternativa disponível ao consenso democrático forçado é agir de modo cego. A oposição ao sistema já não se consegue articular em termos de uma alternativa realista, ou mesmo sob a forma de um projecto utópico, mas pode apenas assumir a forma de uma explosão sem sentido. Para que serve a nossa tão apregoada liberdade de escolha quando a única escolha é entre jogar de acordo com as regras e a violência (auto) destrutiva? (…)
Os motins devem ser situados com relação a um outro tipo de violência que a maioria liberal de hoje percebe como uma ameaça ao seu modo de vida: ataques terroristas e suicídios-bomba. Em ambos os casos, violência e contra-violência integram-se num círculo vicioso, em que cada uma gera a força que procura combater. Em ambos os casos estamos perante passagens cegas à acção, nas quais a violência é uma admissão implícita de impotência. A diferença é que, em contraste com os motins do Reino Unido ou de Paris, os ataques terroristas são cometidos ao serviço de um Significado absoluto fornecido pela religião.” (Slavoj Žižek)