segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A queda do avião militar russo - alguns dados e conclusões

[Do Blog Mundo Cão, sugiro a leitura na integra do ultimo post de 29/015 “Terrorismo turco com a cobertura da NATO” do qual extraio elementos que vou publicar a fim de tornar, espero, mais perceptível a situação aí descrita.]


O avião militar russo:
  • foi abatido em 24/2015, pela força aérea turca; 
  • alegadamente teria violado o espaço aéreo turco;
  • de facto, violou durante 17 segundos, e “de raspão”, o espaço aéreo turco;
  • caiu em território sírio.

Dados conhecidos:
O Pentágono tinha sido informado pela Rússia da incursão - local, datas e horário ao pormenor-  que esteve implicada no derrube do avião russo.
Os caças turcos saíram às 8 e 40 h de uma base a cerca de 400 km do local do incidente  em perfeita conjugação com os dados fornecidos ao Pentágono.
Não há qualquer documentação de advertência prévia ao avião russo por parte da Turquia.
A agressão não foi condenada pelo Ocidente (EU, NATO, Europa);
A NATO mostrou-se solidária com a Turquia apesar de conhecer os pormenores do incidente.
Os E.U. abstiveram-se de confirmar a versão turca de violação do espaço aéreo. 

O que informalmente se sabe:
Sabe-se que a Turquia fecha os olhos ao trânsito de jiadistas na guerra contra a Síria e contra Assad. Desse modo, torna-se conivente com o terrorismo: permite o financiamento do EI, permite o transito de terroristas para a Síria. (Hollande já o percebeu e pede o fechamento de fronteiras entre os dois países.)

Sabe-se que Bilal, filho de Erdogan coordena o contrabando de petróleo que financia o EI; sabe-se que a família de Erdogan tem laços com o príncipe saudita conhecido como “o tesoureiro da Al-Qaida".


Algumas conclusões deduzidas dos dados conhecidos:
Os Estados membros da aliança Atlântica têm de responder  e dar explicações sobre este traiçoeiro atentado, tanto mais que se dizem empenhados na luta contra o EI e portanto não se percebe como permitem o ataque a alguém que está no terreno a corporizar essa luta.

Nesta fotografia, os que ficam pior são os EU e a Europa que inclusivamente ainda não percebeu que a Turquia se está a transformar numa ditadura fundamentalista.

Financeirização da Economia e suas perversidades


A FE significa basicamente que o foco da economia se centra no financiamento da produção ao invés de se centrar na produção; significa que o capitalismo entrou numa nova fase: a do capitalismo financeiro; significa o controlo da economia pela finança e ainda, e mais descaradamente do que nunca, o controlo da política pela finança. Portanto, temos aqui três esferas, ligadas mas distintas: economia, finança e política e temos a dominância de uma, a finança, sobre as outras duas.

Em termos muito gerais, lembremos que a Economia tem a ver com a produção dos bens que são necessários à sobrevivência  e reprodução dos indivíduos; que a Política tem a ver com a forma como a sociedade se organiza a diversos níveis, nomeadamente a nível económico e financeiro; e a Finança tem a ver com os instrumentos que devem servir a economia. Aqui encontramos a primeira perversidade, isto é aquela que deveria ocupar o lugar de maior relevo, a política, está subordinada à menos relevante, a finança, que, de permeio, domina também a economia. E isto é uma simples questão de lógica com a qual, penso, todos estarão de acordo.

Esta perversidade - domínio da política e da economia pela finança - confirma e acentua a natureza de exploração inerente ao sistema capitalista: por um lado, há os que lideram a produção de bens e exploram aqueles que efetivamente os produzem, os trabalhadores; por outro, há os que financiam os empreendimentos e exploram os próprios donos dos empreendimentos produtivos. Acontece ainda com a FE que o dinheiro, simples instrumento facilitador das transações, se transforma ele próprio em mercadoria, em bem (é assim que falamos em mercado de capitais e em fluxos de capitais).

Temos pois que se cria um ciclo em que a finança controla a economia porque, se lhe negar crédito, a asfixia, e controla a política, obrigando os políticos a tomar decisões que considere convenientes. Acresce ainda que a globalização e a facilidade de circulação de capitais lhe fornecem uma arma suplementar de chantagem para dominar os decisores políticos.


Por todas estas razões, e por outras que eventualmente ignorei, torna-se imperioso que a política reverta a situação, começando por regulamentar a atividade financeira e por criar instrumentos financeiros públicos que lhe garantam alguma autonomia que evitem os estrangulamentos orquestrados pelos privado e que os banqueiros privados se transformem nos DDT.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Estado Mínimo e retrocesso civilizacional


Aqueles que pregam o ‘estado mínimo’ pretendem que seja o ‘mercado livre’ a fornecer os serviços de que a sociedade necessita; desse modo colocam em causa os direitos sociais e propõem  um autêntico retrocesso civilizacional.
Como sabemos, a partir dos inícios do século XX e no decurso desse século, sentiu-se a necessidade de substituir um modelo de  Estado que até aí se encontrava ao serviço dos interesses do capital e que se preocupava fundamentalmente com as tarefas de policiamento e segurança  por outras modalidades de Estado, que foram inicialmente o “Estado providência”, passando pelo “Estado Social”, e pelo “Estado do Bem Estar”. Assistiu-se assim a um avanço civilzacional que se julgava uma conquista definitiva e inegociável.
Mas as forças reacionárias não desistem e já perceberam que o importante para já é ganhar a ‘batalha cultural’, por isso não se cansam de exaltar as virtudes do ‘livre mercado’ e a defesa do ‘estado mínimo’. Bruno Zaffari, empresario brasileiro,  em novembro (23) de 2015 em entrevista à Zero Hora, resume essa posição de forma exemplar:
“É o livre mercado que incentiva cada indivíduo a inovar e buscar os limites de sua capacidade, contribuindo assim para uma sociedade mais próspera. Ainda que não seja perfeito, transforma o consumidor em soberano e é o único sistema que permite que as mais diversas necessidades, de alimentos a serviços complexos de tecnologia, sejam atendidas ao menor custo.”
O mesmo Bruno Zaffari considera que o Estado interventivo retira capacidade de escolha aos cidadãos. Todavia, quanto a este último ponto, deveria dizer-se o que Marx respondeu aqueles que se opunham à suposta abolição da propriedade privada; Marx enfatizou que essa abolição só atingiria uma minoria que a detinha e em nada prejudicaria a imensa maioria da população. Do mesmo modo o Estado só retiraria oportunidade de escolha a quem pode escolher que, infelizmente, continua a ser uma minoria.
Claro que o Estado precisa de se desburocratizar, sem se deixar corromper, e sem cair no nepotismo; claro que deve racionalizar os gastos e evitar os desperdícios, mas também precisa de proteger os cidadãos da natureza predatória do mercado e dos desvarios do capital.
Políticas levadas a cabo em vários locais e épocas, como, por exemplo,  no Brasil, o programa Fome Zero, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e o Prouni  (que prevê cotas para possibilitar o acesso á universidade de estudantes de outra maneira irremediavelmente afastados) permitiram tiram da pobreza milhões de pessoas que pura e simplesmente não tinham liberdade para escolher no ‘mercado livre’.

Não deixa de ser curioso que os amantes da liberdade (liberdade formal, leia-se) são sempre aqueles que tem poder económico para poderem fazer escolhas, atropelando a liberdade dos outros.

domingo, 8 de novembro de 2015

Das razões do declínio da Esquerda


Faço aqui o resumo e comentário da leitura de um artigo publicado pela revista francesa La Vie, de 15-10-2015, que corrobora muito do que tenho pensado sobre aquilo que o autor, Gaël Brustier, designa de “hegemonia cultural”:

Gaël Brustier, cientista político, publicou recentemente À demain Gramsci. Retomando as ideias defendidas pelo filósofo António Gramsci, co-fundador do partido comunista italiano (1921), Brustier defende que o declínio da esquerda e a sua incapacidade em mobilizar vastos setores da sociedade decorre de os partidos que a representam terem desistido de travar a batalha cultural.

Gramsci nos Cadernos do Cárcere cunhou um termo/conceito que se reveste de particular importância, mas que tem sido negligenciado pela esquerda e que é o conceito de “hegemonia cultural”. Quem tiver a hegemonia cultural convence as pessoas de que as suas propostas são as melhores e de que não há alternativa. Logo, a luta pela hegemonia cultural é muito importante e é  tanto mais importante quanto a direita tem tudo para a ganhar: meios de comunicação, elites preparadas nas melhores escolas, dotadas de uma capacidade retórica e argumentativa invejável.
 A direita já percebeu o que a esquerda tarda em apreender: é que para ganhar, no quadro das democracias formais, não basta dominar o poder militar ou os meios de produção, é preciso convencer as pessoas de que as suas propostas são as melhores e de que não há alternativa. Ter a hegemonia cultural significa formar opinião e construir o senso comum, isto é, aquilo que o comum das pessoas pensa acerca dos temas mais candentes e problemáticos; de notar que o senso comum tende a ser acrítico e assim, uma vez estabelecido, torna-se muito difícil desalojá-lo.

Essa luta pela hegemonia cultural tem de travar-se em várias frentes, desde o campo político ao campo social em questões como, por exemplo, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a interrupção da gravidez, os paraísos fiscais, a dívida pública, etc., etc. e tem de ser travada no plano da retórica e da argumentação, encontrando-se formas criativas e pregnantes para transmitir mensagens fortes, mensagens que fiquem. As questões e as soluções estão longe de ser óbvias e é preciso defendê-las com unhas e dentes, como,aliás, a direita faz e muito bem.

Ora ao invés de refletir sobre esta questão e de travar esta luta a esquerda tem 
sistematicamente assumido uma atitude negligente que só pode conduzir ao desastre.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Desigualdade económica e capitalismo


 
Continua de pé a tese de que o sistema capitalista tende a acentuar a desigualdade económica, contrariamente à opinião dos que defendem que com a criação de riqueza as sociedades tenderiam a uma maior igualização.
 
É facto conhecido que entre 1920 e 1970, as desigualdades económicas diminuíram significativamente, particularmente nos países desenvolvidos (Estados Unidos e Europa); mas hoje sabe-se que isso se ficou a dever não ao funcionamento do sistema económico - de natureza capitalista - mas devido a fatores exógenos que nada tiveram a ver com esses sistema (como muito bem explica Piketty em O Capital no século XXI). Um dos fatores que contribuiu para uma maior igualização foi a destruição de patrimónios operada pelas duas guerras mundiais; o outro decorreu do clima da guerra fria entre o Ocidente e a União Soviética, com os receios por parte dos países ocidentais de que as suas populações passassem a simpatizar com o programa comunista; tais receios permitem compreender os '30 gloriosos anos' (1950-1980) de políticas de bem estar social que também contribuiram para a redução as desigualdades.

Todavia, uma vez removido esse receio com a eclosão pressentida e efetivada no final da década de oitenta do bloco soviético, a direita pôde retomar o programa liberal ou melhor neoliberal de que nunca desistira e assistimos com Reagan nos Estados Unidos e com Tatcher no Reino Unido ao realinhamento de políticas tendentes a, no mínimo, descaraterizar e enfraquecer o estado de bem estar social com o consequente aumento das desigualdades económicas. Paradoxalmente, apesar da crise financeira e económica de 2008, assistimos, um pouco estupefactos, a um fenómeno que poucos de nos esperaríamos que ocorresse: as desigualdades não só não diminuíram como aumentaram.

É desse crescimento da desigualdade que nos dá conta o relatório anual sobre a riqueza no mundo do banco Credit Suisse, do ano de 2015 que conclui que a cada 100 pessoas no mundo, uma detém riqueza equivalente à soma das 99 restantes. Nesse sentido, o economista Márcio Pochmann em artigo da Rede Brasil – RBA de 02-11-2015, escreve:

Dos mais de 4,8 biliões de habitantes adultos que vivem em mais de 200 países no planeta terra, somente 0,7% do total de pessoas (34 milhões) concentra mais de 45% da riqueza do mundo, enquanto os 10% mais ricos monopolizam quase 90% de todos os ativos. A cada dois ricos no mundo, um reside nos Estados Unidos, seguido dos chineses e dos ingleses.”

Isto trocado em miúdos significa que o número de milionários tem subido e previsivelmente vai continuar a subir, mas o mesmo vai acontecer ao numero de pobres, pelo que se torna plausível concluir que a tendência do sistema capitalista vai no sentido da concentração da riqueza e da acentuação da desigualdade entre ricos e pobres e não é de esperar que a situação se altere, dada a natureza do modo de produção capitalista e da lógica que subjaz ao sistema.








segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O Tratado Transpacífico – Trans-Pacific Partnership (TPP) - e o capitalismo neoliberal


Tanto a esquerda como a direita continuam a acreditar que a chamada fase do capitalismo neoliberal implica retirar ao Estado poder de intervenção, pois ainda não  se percebeu que o que se está a passar é que o Estado foi capturado pela finança e intervém sim, mas intervém para fazer aquilo que interessa à finança – de notar que o intervencionismo estatal só foi execrado enquanto se temia que ele pudesse estar ao serviço dos cidadãos.
É neste novo contexto neoliberal que devem ser entendidos tratados como o Tratado Transpacífico (Trans-Pacific Partnership TPP) que está a ser negociado em segredo e deve ser assinado por 12 países: E.U. Japão, Malásia, Vietnam, Singapura, Brunei, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, México, Chile e Peru, com uma posição nitidamente hegemónica dos E.U. e da moeda americana.

A favor deste tratado alega-se que promoverá o crescimento económico; contra alega-se que deslocará o emprego dos países desenvolvidos para os menos desenvolvidos e critica-se o secretismo que tem envolvido as negociações.

O objetivo declarado do tratado é aprofundar os laços económicos entre estes países, eliminando progressivamente tarifas - de acordo com o tipo de produtos e setores da economia - e facilitando o comércio para promover o crescimento. Com este tratado pode criar-se um mercado amplo comparável ao da União Europeia, dominado pelo dólar. O que está em jogo são 800 milhões de habitantes/consumidores, quase o dobro da união europeia, e cerca de 40% do comércio mundial.

Os críticos do tratado denunciam o facto de marginalizar a China, a Rússia e a Europa e dizem ainda que facilita a vida ás grandes corporações capitalistas que passam a poder acusar os governos que mudem as suas políticas, por exemplo, em saúde e educação, para favorecer serviços fornecidos pelo Estado. É ainda acusado de promover a competição dos trabalhadores entre diferentes países Mas a principal crítica é que o tratado com todo o seu secretismo pode vir a incluir matérias nas quais os cidadãos deveriam ser previamente ouvidos, minando assim a natureza do estado democrático, para mais uma vez corresponder aos interesses da finança internacional.