sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Erros estranhos de um economista de eleição e político a contragosto

Tenho acompanhado o debate para a eleição presidencial e não posso deixar de estranhar a prestação do candidato Cavaco Silva. Este, nos idos de 2001, adquiriu acções de uma instituição detentora do tristemente célebre BPN, acções essas que lhe renderam juros absolutamente invulgares e que lhe deveriam ter dado que pensar - mas aparentemente não deram - limitou-se a empochar o dinheiro. Sendo um economista e um economista que tantos reverenciam, como é que não percebeu que o esquema de que estava a beneficiar  tinha contornos que o aproximavam do caso D. Branca que, como ele bem sabia, acabou no tribunal e colocou a «vetusta» senhora atrás das grades!? Para uma pessoa que diz pautar-se por rígidos critérios de honorabilidade, devia também reconhecer que tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta, embora a tradição e os bons costumes sejam normalmente brandos para quem fica à porta. Devia ainda perceber que para um político e um político com pretensões de carreira, como se veio a provar, esse comportamento haveria de ter implicações e levantar suspeições. São estes aspectos que estão em causa e não propriamente a sua responsabilidade na gestão desse banco e nos sucessos que dela advieram, que é nula..
Não contente com esta lamentável prestação, ainda teve o desplante de tentar afastar o foco do debate para a nova administaração do BPN, assacando-lhe responsabilidades por não ter conseguido reverter a situação comparando com bancos ingleses que o conseguiram; então ele também não percebe que não são situações comparáveis, onde estão os seus autoproclamados conhecimentos de economia e finanças e onde estão os comentadores que não o zurzem como deviam e continuam a dobrar a língua com o «sr. professor» como se este fosse uma sumidade na matéria!?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Grande Depressão de 1929

Revisitar o passado pode de alguma maneira ajudar a compreender melhor o presente; tem-se enfatizado que vivemos actualmente uma crise de dimensão equivalente à vivida em 1929, que deflagrou nos Estados Unidos, fazendo depois sentir-se em outras partes do mundo. É essa a visita que Noticias do Bloqueio hoje se propõe fazer.

O elemento catalisador - o crach da bolsa de Nova Iorque foi o agente catalisador da Grande Depressão de 1929 mas não foi o único nem por ventura o principal factor que a explica; houve uma confluência de factores que importa conhecer e levar em consideração.
No período que precedeu a crise muitas pessoas usavam dinheiro «imaginário», compravam a crédito acções e com base nos prováveis lucros dessas acções compravam mais acções, uma autêntica loucura com dinheiro que não só não tinham, como nem sequer existia ainda, e podia vir a não existir. Se os cálculos falhavam e se os lucros das acções não se verificavam a pessoa ou a instituição ficava endividada e, sem outros recursos, entrava em falência. Ora foi isso que acabou por acontecer a muitos investidores.
No Verão de 1929, a competição com a Grã-Bretanha para obter investimento estrangeiro levou os especuladores norte-americanos a baixarem o valor das acções; no Outono começou a corrida dos americanos aos bancos com a preocupação de retirarem o seu dinheiro do mercado de acções. A 29 de Outubro de 1929 deu-se o crash que ficou conhecido por quinta feira negra, muitos investidores perderam quantias fabulosas e entraram em bancarrota. Este foi o elemento catalisador da crise, vejamos agora os factores que para ela confluíram e que permitem compreender a magnitude que atingiu.

Viragem na economia - nos inícios do século vinte, nos Estados Unidos, diferentemente do que tinha ocorrido no século XIX em que a economia desenvolvera a indústria pesada, produzindo aço, carvão e petróleo, deu-se uma viragem para a produção de bens de consumo: automóveis, rádios, electrodomésticos e outros artigos que podiam ser usados nos lares. Muitas pessoas começaram a comprar a crédito os mais variados artigos. Esta bolha financeira acabou por rebentar quando as pessoas que deviam não conseguiram honrar os seus compromissos. Os credores foram forçados a arcar com milhões de dólares de prejuízos, e gerou-se uma reacção em cadeia: como os consumidores não podiam consumir, muitas indústrias e explorações agrícolas faliram e com elas perderam-se muitos empregos, tornando ainda mais difícil reactivar a economia.

Superprodução industrial - A superprodução industrial foi um outro factor que conduziu à crise. Na década de vinte muitas manufacturas, com a utilização de nova maquinaria, aumentaram a produção a uma escala que não correspondia à capacidade de compra das pessoas porque os salários dos operários não aumentaram de forma equivalente, a procura acabou por ser muito inferior à oferta, os preços dos produtos caíram na vertical, os empresários faliram, o que originou mais desemprego, menor poder de compra e mais falências – uma autêntica bola de neve.

Superprodução agrícola - O que aconteceu na indústria também se verificou na agricultura com as mesmas consequências. Agricultores muito endividados decidiram plantar trigo, mesmo sabendo que esta cultura tornava os terrenos inférteis no futuro, a acrescentar a este factor, que ignoraram porque estavam desesperados, houve superprodução deste cereal, o preço caiu, os produtores ficaram pior do que estavam antes e a insistência nesta cultura intensiva acabou por provocar um desastre ambiental

Desigualdade na distribuição do rendimento - A desigualdade na distribuição do rendimento que na década de 20 atingiu níveis nunca vistos também contribui para a severidade da crise. Em 29 quando se deu o crash da bolsa, mais de um terço da riqueza do país estava nas mãos de apenas 1% da população, enquanto os muito pobres, isto é cerca de 20% da população detinha apenas 4%, praticamente não havia classe média, uma minoria era muito rica e a vasta maioria era pobre ou estava muito perto da linha de pobreza.

Más práticas bancárias - não existia regulação federal para controlar os bancos e os utentes não tinham capacidade para reagir as práticas que lhes eram impostas; era difícil saber o que os banqueiros iam fazer com os depósitos dos clientes, muitos compravam acções que com o crash se desvalorizaram completamente e os clientes ficaram sem as suas poupanças. Por outro lado, quando um banco falia as pessoas apressavam-se a levantar dinheiro e como as poupanças estavam a descoberto, dado os negócios irresponsáveis dos administradores, era como um castelo de cartas, caindo uma as outras também caem.

A depressão global - depois da I Guerra Mundial, a França e a Inglaterra exigiram da Alemanha reparações de guerra perfeitamente irrealistas e por sua vez deviam enormes quantias por empréstimos contraídos durante a guerra aos Estados Unidos e não tinham capacidade para pagar as dívidas e consequentemente para dinamizarem as suas próprias economias.

A resposta federal à crise - a receita do presidente Hoover foi o laissez faire, laissez passer, a nação, isto é, as famílias deveriam erguer os brancos, lançar mãos a obra e trabalhar duro, mas o problema, não fazendo o Estado nada, acabou por não passar porque os privados não tinham capacidade para intervir com um mínimo de eficácia; depois, o próprio presidente, em contradição com o laissez faire que preconizara, resolveu taxar as importações para proteger a indústria americana, mas foi pior a emenda do que o soneto, porque os outros países em retaliação deixaram de comprar produtos americanos o que ainda complicou mais a situação económica do país.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Manifesto

Este blog tem por objectivo abordar temas de vária natureza numa perspectiva crítica e reflectida.
Comentários serão bem vindos desde que observem critérios de civilidade, outros que eventuamente não observem este requisito, serão deletados.
Em breve darei notícas do bloqueio.