quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Malthus e a justificação da injustiça social


Thomas Malthus (1766-1834), autor de An Essay on the Principles of Population (1798), conseguiu encontrar um racional forte e convincente para justificar a injustiça social, melhor dizendo, para justificar a pobreza e a miséria em que então vivia a maior parte da população do Reino Unido e não só. Esse racional, travestido com a formulação matemática, captou a atenção e o assentimento de vastos setores da população culta e, como não podia deixar de ser, contribuiu para o atraso na resolução do problema; de onde mais uma vez se prova como as ideias são importantes, pois criam, ou não, condições favoráveis à mudança.

Durante séculos, a pobreza tinha sido considerada normal e natural, querida porventura pelo próprio arquiteto divino; mas agora, no século do Iluminismo e do progresso científico, surgia alguém que vinha provar por A + B que ela era uma uma inevitabilidade. Malthus escreveu e todos acreditaram piamente, com algumas honrosas exceções, que, enquanto a população cresce em progressão geométrica, os meios de subsistência crescem em progressão aritmética, o que significa dizer que não há alimento para todos e, por isso, como Malthus também defendia, distribuir a riqueza existente seria apenas socializar a miséria ( diga-se em abono da verdade que, obviamente, ele fazia parte do grupo que não queria ser socializado).

Malthus não tinha dados estatísticos rigorosos, mas, de facto, na época, se a fecundidade era elevada, a mortalidade também o era e ele pensava que a única maneira de mitigar o problema seria não ajudar os pobres e esperar que eles morressem.
Para ajudar na resolução do problema, ainda teorizava acerca do salário que devia ser pago aos trabalhadores rurais (era na classe dos proprietários fundiários  a que pertencia que ele estava pensar) e, muito preocupado em limitar o crescimento da população, defendia o ‘salário de subsistência’ - uma espécie de salário mínimo da época - que permitia que o trabalhador não morresse de fome e assim se repusesse a força de trabalho e em simultâneo não favorecia a constituição de uma familia numerosa ou, se esta existisse, seria drasticamente reduzida pela fome e doenças que teria de enfrentar. Se o salário fosse acima da salário de subsistência, haveria familias mais numerosas ou esbanjamento do dinheiro na taverna; se fosse abaixo o trabalhador teria dificuldade ele próprio em sobreviver e assim não seria reposta a força de trabalho necessária.

Tudo muito bem calculado e muito bem nomeado! Claro que podemos naturalmente perguntar se realmente a defesa do salário de sobrevivência visava limitar o crescimento da população ou se era um subterfúgio para permitir que quem pagava salários de subsistência aos trabalhadores das suas terras se sentisse justificado, considerando que até estava a fazer uma boa ação.
Sabemos como funciona o discurso ideológico; sabemos que esconde, até para aquele que o produz, as verdadeiras motivações que se encontram na origem das propostas que apresenta. Ora o discurso de Malthus, hoje, com o distanciamento necessário, revela toda a sua natureza mistificadora, mas, curiosamente, quando, aluna de liceu hà umas boas décadas, dele tomei conhecimento, ninguém o desconstruiu e aceitei-o, acriticamente, pelo seu valor facial.


Claro que Malthus, como a historia o veio a provar,  enganou-se redondamente, mas se calhar, de facto, no fundo, ele não queria a verdade, queria apenas defender os seus próprios e particulares interesses. 

Realmente precisamos de desconfiar da razão, não para a abandonar mas para a aperfeiçoar; precisamos de uma nova racionalidade!

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