Numa
entrevista recente concedida à revista IHU
On-line, o economista Andrea Fumagalli
explica como os mercados financeiros estão longe de ser democráticos
e como podem mesmo ditar a morte da democracia.
Quanto
à sua composição, os mercados financeiros, embora contenham um
número imenso e incontável de investidores, funcionam como uma
pirâmide que tem no vértice 'os tubarões' - um pequeno número que
controla 65/ do fluxo total de capitais.
Quanto ao modus operandi, é
essa minoria que determina a dinâmica e a orientação do mercado e
toma decisões que afetam a vida das pessoas.
Sobre
o modo como essas decisões afetam as nossas vidas, todos conhecemos
direta ou indiretamente experiências negativas relacionadas com
juros e com dívida pública e privada; no fundo essa foi a maneira
que a oligarquia que controla os mercados encontrou para transferir
riqueza dos pobres para o ricos. Por
exemplo, em relação à dívida pública, o que acontece é que os
que têm mais recursos em vez de pagarem impostos para subsidiarem
serviços sociais, de segurança, transportes ou vias de comunicação,
de que também beneficiam direta ou indiretamente, emprestam dinheiro
ao próprio Estado, e depois obrigam-no a tirar 'à força' aos que
poucos recursos têm, para além da sua capacidade de trabalho, para
pagar o empréstimo e para, como maviosamente dizem, custear o
'serviço da dívida'. É assim que ocorre aquilo a que os
economistas (alguns) chamam de transferência de rendimento do
trabalho para o capital. E é também assim que se está a matar a
democracia e a lançar o descrédito sobre os políticos do regime.
Aqui
vai o texto, abreviado e adaptado de AndreFumagalli:
“O
pensamento
neoliberal fundamenta-se
no conceito de neutralidade da moeda e na suposição da perfeita
competição nos mercados financeiros. Na verdade, os mercados
financeiros não são imparciais e neutros, mas expressão de uma
hierarquia
bem precisa: longe de serem concorrenciais, escondem uma pirâmide
que vê, na parte superior, poucos operadores financeiros controlando
mais de 65% de fluxos globais e, na base, uma miríade de pequenos
investidores e operadores desempenhando uma função passiva. Tal
estrutura permite que poucas empresas tenham capacidade de atingir e
afetar
a dinâmica do mercado.
As agências de rating (amiúde em conluio com as financeiras)
ratificam, de modo instrumental, decisões oligárquicas, tomadas de
tempos em tempos.
Com
tal farsa, o pensamento neoliberal tenta fazer passar como objetiva,
neutra e naturalmente dada, uma estrutura de poder que, ao contrário,
objetiva favorecer uma distribuição que vai dos mais pobres para os
mais ricos. (...)
No
mesmo momento em que as hierarquias
do mercado ditarem
as escolhas da política económica, e o próprio mercado estabelecer
as regras das relações humano-sociais, a democracia, entendida como
processo de decisão resultante de um princípio dialético, está
morta.
(…)
A desconfiança da "política" surge no exato momento em
que ela se torna uma caixa vazia, que ratifica decisões tomadas em
outros lugares. É consequência, não causa, da prevalência do
poder
económico sobre
o poder político e sobre o direito.”
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