Verificou-se mais uma vez, com as eleições de ontem, realizadas em Portugal, que a abstenção tendeu a ser a principal protagonista. Encontrar o racional para este fenómeno deveria levar-nos a reflectir sobre a promiscuidade entre a política e o 'mercado' (interesses económicos).
Esta promiscuidade funciona a favor do mercado porque é este (interesses económicos) que
dita as decisões que os políticos vão tomar. Basicamente não há
aqui novidade nenhuma; sempre têm sido assim, em diferentes
tempos e espaços, desde os períodos mais remotos; mas hoje, na media em que os regimes políticos
se reclamam da democracia e pretendem ser legitimados pelos cidadãos,
não deveria ser assim e é por isso que, do ponto de vista formal, se alega
independência.
O
problema com a promiscuidade entre mercados e política é que a
política fica refém dos mercados e então não há de facto
democracia porque nem o povo, através do voto, nem os políticos,
por ele escolhidos, têm poder de decisão, como se viu recentemente
no caso da Grécia. Mas o mercado não dita só como os políticos
devem decidir, dita também como a vida das pessoas, a nossa via, vai ser; por
exemplo, como hoje se gosta de dizer, as pessoas têm de se habituar
à instabilidade e à insegurança no emprego e ao trabalho
precário. São os novos tempos e não há alternativa.
É
neste fenómeno – contaminação da politica pelos mercados - que
radica o descrédito das pessoas nos políticos: julgam que são eles
os culpados, mas o que acontece é que eles ou são coniventes com os
interesses económicos em jogo (e aí de facto são culpados), ou
estão reféns do sistema económico (e aí a sua culpa é atenuada
pela impossibilidade de mudarem as estruturas. O sistema económico continua a ser,como bem sabemos, capitalista e só por mera conveniência aceita, ou finge aceitar, as estruturas democráticas.
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