sábado, 18 de junho de 2011

Porque resgatar e não reestruturar a dívida?

Como sabemos, o resgate das economias da Grécia, Irlanda e recentemente de Portugal suscitou uma onda de protestos em vários países da União Europeia, capitalizados pelos partidos de extrema-direita, antes com expressão mínima, o que não augura nada de bom. Foi o que aconteceu, por exemplo, na Finlândia com os «Autênticos finlandeses»; em França com a extrema-direita da Frente Nacional, liderada por Marine Le Pen, e na Holanda onde a direita também se posicionou contra os resgastes. Para além de explorarem sentimentos xenófobas em relação a imigrantes, o mote agora é a ajuda aos povos preguiçosos e irresponsáveis da União Europeia.
Por outro lado, existe o sentimento cada vez mais disseminado de que os resgates só permitem ganhar tempo e não vão resolver a situação; os encargos com as dívidas, dada a exorbitância dos juros, são tais que não se vê muito bem como é que a economia desses países pode crescer, apenas se lhes está a fornecer meros balões de oxigénio e nada se faz para curar a doença.
A alternativa teria sido reestruturar a dívida o que significaria obrigar os credores a arcarem com prejuízos, justificados pelo facto de terem disponibilizado crédito em condições em que qualquer credor de boa fé não o teria feito. Por exemplo, se uma pessoa empresta dinheiro a outra para ela comprar luxos e supérfluos sabendo que esta não tem condições reais de pagar, rapidamente percebemos que o credor se está a aproveitar da situação para mais tarde levar o couro e o cabelo ao devedor; se isto é assim com os privados, também o é ao nível de instituições financeiras e dos países. As instituições financeiras quiseram fazer dinheiro fácil e incentivaram as pessoas e os Estados a contraírem empréstimos, ao fazê-lo correram riscos irresponsáveis portanto agora também deviam ser penalizadas; mas ninguém se atreve a fazê-lo.
A Europa optou por não seguir o caminho de reestruturação das dívidas e optou pelos resgates, mas esta opção teve custos políticos de que ainda não podemos prever as consequências; para já permitiu o fortalecimento da direita e da extrema-direita populista em países civilizados e com tradição democrática; aí a direita pode fazer um discurso muito convincente e exigir com base nesse discurso mecanismos de controlo antes impensáveis, destruindo em paralelo o estado de bem-estar social e obrigando os trabalhadores a aceitarem condições igualmente impensáveis até há bem pouco tempo.
O que é um facto é que a direita, que nos anos oitenta nos Estados Unidos e no Reino Unido acedeu ao poder com Reagan e com a Tatcher, deixou o serviço incompleto e agora tem uma boa oportunidade para alcançar o que já então era o seu desiderato: privatizar, privatizar, privatizar; eliminar ou pelo menos diminuir a proteção social do Estado e deixar as pessoas à mercê dos donos do poder, nomeadamente do poder financeiro.

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