Continua de pé a tese de que o sistema capitalista tende a acentuar a desigualdade económica, contrariamente à opinião dos que defendem que com a criação de riqueza as sociedades tenderiam a uma maior igualização.
É
facto conhecido que entre 1920 e 1970, as desigualdades económicas
diminuíram significativamente, particularmente nos países
desenvolvidos (Estados Unidos e Europa); mas hoje sabe-se que isso se
ficou a dever não ao funcionamento do sistema económico - de
natureza capitalista - mas devido a fatores exógenos que nada
tiveram a ver com esses sistema (como muito bem explica Piketty em O
Capital no século XXI). Um dos fatores que contribuiu para uma maior
igualização foi a destruição de patrimónios operada pelas duas
guerras mundiais; o outro decorreu do clima da guerra fria entre o
Ocidente e a União Soviética, com os receios por parte dos países
ocidentais de que as suas populações passassem a simpatizar com o
programa comunista; tais receios permitem compreender os '30
gloriosos anos' (1950-1980) de políticas de bem estar social que
também contribuiram para a redução as desigualdades.
Todavia,
uma vez removido esse receio com a eclosão pressentida e efetivada
no final da década de oitenta do bloco soviético, a direita pôde
retomar o programa liberal ou melhor neoliberal de que nunca
desistira e assistimos com Reagan nos Estados Unidos e com Tatcher no
Reino Unido ao realinhamento de políticas tendentes a, no mínimo,
descaraterizar e enfraquecer o estado de bem estar social com o
consequente aumento das desigualdades económicas. Paradoxalmente,
apesar da crise financeira e económica de 2008, assistimos, um pouco
estupefactos, a um fenómeno que poucos de nos esperaríamos que
ocorresse: as desigualdades não só não diminuíram como
aumentaram.
É
desse crescimento da desigualdade que nos dá conta o relatório
anual sobre a riqueza no mundo do banco Credit
Suisse,
do ano de 2015 que conclui que a cada 100 pessoas no mundo, uma detém
riqueza equivalente à soma das 99 restantes. Nesse sentido, o
economista
Márcio
Pochmann em artigo
da Rede Brasil – RBA de
02-11-2015, escreve:
“Dos
mais de 4,8 biliões de habitantes adultos que vivem em mais de 200
países no planeta terra, somente 0,7% do total de pessoas (34
milhões) concentra mais de 45% da riqueza do mundo, enquanto os 10%
mais ricos monopolizam quase 90% de todos os ativos. A cada dois
ricos no mundo, um reside nos Estados Unidos, seguido dos chineses e
dos ingleses.”
Isto
trocado em miúdos significa que o número de milionários tem subido
e previsivelmente vai continuar a subir, mas o mesmo vai acontecer ao
numero de pobres, pelo que se torna plausível concluir que a
tendência do sistema capitalista vai no sentido da concentração
da riqueza e da acentuação da desigualdade entre ricos e pobres e
não é de esperar que a situação se altere, dada a natureza do
modo de produção capitalista e da lógica que subjaz ao sistema.
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