quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Desigualdade económica e capitalismo


 
Continua de pé a tese de que o sistema capitalista tende a acentuar a desigualdade económica, contrariamente à opinião dos que defendem que com a criação de riqueza as sociedades tenderiam a uma maior igualização.
 
É facto conhecido que entre 1920 e 1970, as desigualdades económicas diminuíram significativamente, particularmente nos países desenvolvidos (Estados Unidos e Europa); mas hoje sabe-se que isso se ficou a dever não ao funcionamento do sistema económico - de natureza capitalista - mas devido a fatores exógenos que nada tiveram a ver com esses sistema (como muito bem explica Piketty em O Capital no século XXI). Um dos fatores que contribuiu para uma maior igualização foi a destruição de patrimónios operada pelas duas guerras mundiais; o outro decorreu do clima da guerra fria entre o Ocidente e a União Soviética, com os receios por parte dos países ocidentais de que as suas populações passassem a simpatizar com o programa comunista; tais receios permitem compreender os '30 gloriosos anos' (1950-1980) de políticas de bem estar social que também contribuiram para a redução as desigualdades.

Todavia, uma vez removido esse receio com a eclosão pressentida e efetivada no final da década de oitenta do bloco soviético, a direita pôde retomar o programa liberal ou melhor neoliberal de que nunca desistira e assistimos com Reagan nos Estados Unidos e com Tatcher no Reino Unido ao realinhamento de políticas tendentes a, no mínimo, descaraterizar e enfraquecer o estado de bem estar social com o consequente aumento das desigualdades económicas. Paradoxalmente, apesar da crise financeira e económica de 2008, assistimos, um pouco estupefactos, a um fenómeno que poucos de nos esperaríamos que ocorresse: as desigualdades não só não diminuíram como aumentaram.

É desse crescimento da desigualdade que nos dá conta o relatório anual sobre a riqueza no mundo do banco Credit Suisse, do ano de 2015 que conclui que a cada 100 pessoas no mundo, uma detém riqueza equivalente à soma das 99 restantes. Nesse sentido, o economista Márcio Pochmann em artigo da Rede Brasil – RBA de 02-11-2015, escreve:

Dos mais de 4,8 biliões de habitantes adultos que vivem em mais de 200 países no planeta terra, somente 0,7% do total de pessoas (34 milhões) concentra mais de 45% da riqueza do mundo, enquanto os 10% mais ricos monopolizam quase 90% de todos os ativos. A cada dois ricos no mundo, um reside nos Estados Unidos, seguido dos chineses e dos ingleses.”

Isto trocado em miúdos significa que o número de milionários tem subido e previsivelmente vai continuar a subir, mas o mesmo vai acontecer ao numero de pobres, pelo que se torna plausível concluir que a tendência do sistema capitalista vai no sentido da concentração da riqueza e da acentuação da desigualdade entre ricos e pobres e não é de esperar que a situação se altere, dada a natureza do modo de produção capitalista e da lógica que subjaz ao sistema.








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