Faço
aqui o resumo e comentário da leitura de um artigo publicado pela revista
francesa La Vie, de 15-10-2015, que corrobora muito do que tenho pensado sobre
aquilo que o autor, Gaël Brustier, designa de “hegemonia cultural”:
Gaël
Brustier, cientista político, publicou recentemente À demain Gramsci. Retomando
as ideias defendidas pelo filósofo António Gramsci, co-fundador do partido
comunista italiano (1921), Brustier defende que o declínio da esquerda e a sua
incapacidade em mobilizar vastos setores da sociedade decorre de os partidos
que a representam terem desistido de travar a batalha cultural.
Gramsci
nos Cadernos do Cárcere cunhou um termo/conceito que se reveste de particular
importância, mas que tem sido negligenciado pela esquerda e que é o conceito de
“hegemonia cultural”. Quem tiver a hegemonia cultural convence as pessoas de
que as suas propostas são as melhores e de que não há alternativa. Logo, a luta pela
hegemonia cultural é muito importante e é tanto mais importante quanto a direita tem
tudo para a ganhar: meios de comunicação, elites preparadas nas melhores
escolas, dotadas de uma capacidade retórica e argumentativa invejável.
A direita já percebeu o que a esquerda tarda
em apreender: é que para ganhar, no quadro das democracias formais, não basta
dominar o poder militar ou os meios de produção, é preciso convencer as pessoas
de que as suas propostas são as melhores e de que não há alternativa. Ter a
hegemonia cultural significa formar opinião e construir o senso comum, isto é,
aquilo que o comum das pessoas pensa acerca dos temas mais candentes e
problemáticos; de notar que o senso comum tende a ser acrítico e assim, uma vez
estabelecido, torna-se muito difícil desalojá-lo.
Essa
luta pela hegemonia cultural tem de travar-se em várias frentes, desde o campo
político ao campo social em questões como, por exemplo, o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, a interrupção da gravidez, os paraísos fiscais, a dívida pública, etc., etc. e tem de ser travada no plano da retórica e da
argumentação, encontrando-se formas criativas e pregnantes para transmitir
mensagens fortes, mensagens que fiquem. As questões e as soluções estão longe
de ser óbvias e é preciso defendê-las com unhas e dentes, como,aliás, a direita
faz e muito bem.
Ora ao invés de refletir
sobre esta questão e de travar esta luta a esquerda tem
sistematicamente
assumido uma atitude negligente que só pode conduzir ao desastre.
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