Há
quem defenda - ingénuamente ou não, fica por esclarecer - que os
impostos cobrados pelo Estado para políticas de proteção social
não devem reverter em benefício de todos, mas apenas daqueles que
têm específicas carências; afinal, aqueles que podem pagar não
precisariam desse apoio. Todavia, desse modo de raciocinar decorrem
vários riscos porque, se assim fosse:
- Os que se encontram melhor discutirão a legitimidade de pagar para os que estão pior, o dinheiro custou-lhes a ganhar, foi legitimamente adquirido, não roubaram ninguém e consideram que tirar-lhes nem que seja uma pequena porção através de imposto é um ataque à sua liberdade, um autêntico roubo perpretado pelo Estado. É essa a linha de argumentação das posições libertaristas de Robert Nozick e outros.
- Poderia haver a tentação para estabelecer serviços minimos e de qualidade discutível, tipo assistência para pobres que apenas mascaravam as carencias e não resolviam o problema da falta de igualdade de oportunidades.
Estas
são boas razões para que o dinheiro cobrado através dos impostos
deva reverter em benefício de todos, em serviços como educação
pública, saúde pública, sistema de pensões etc. depois quem
quiser recorrer a privados pode fazê-lo, mas por sua conta e risco e
sem ter de se queixar porque têm serviços de boa qualidade à sua
disposição e só não os utiliza porque não quer. Deve pois
apostar-se na qualidade dos serviços. Claro que os privados podem
não gostar, mas tanto pior para os privados.
Neste
quadro, percebe-se que os governos inspirados no neoliberalismo,
embora tenham dificuldade em negar o estado de bem estar social
(perderiam apoio popular) contribuam para lhes retirar qualidade,
investindo neles menos recursos e apoiando mais ou menos
discretamente os equivalentes serviços privados (lembremos o cheque
educação para as familias poderem escolher escolas privadas para as
crianças ou as parcerias com serviços de saúde privados a quem
pagam serviços que poderiam, se devidamente apoiados, ser prestados no
Público.)
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